A perda dos cabelos talvez seja uma das maiores inseguranças de qualquer mulher, considerada por muitos como a ‘moldura do rosto’, eles representam também a sua identidade. Nas margens dos rios que abraçam o estado do Pará, as mulheres ribeirinhas têm como marca registrada, os seus longos cabelos que trazem histórias e experiências vividas às margens dos rios.

Rios estes, que também escondem perigos em cada embarcação que navega com seu motor desprotegido. O escalpelamento causado pela falta de segurança nos motores das embarcações, tem deixado chagas profundas na vida daquelas que tiveram parte de seu corpo mutilado pelo motor do barco. Entendendo a profundidade dessa questão, a Secretaria de Estado das Mulheres (Semu), tem mantido um olhar atento a essas mulheres e, assim,  buscou parceria com o intuito de transformar e mitigar os danos causados pelo escalpelamento.

Durante a oferta dos serviços de estética e beleza nas ações realizadas pela Semu, com o objetivo de resgatar a autoestima das mulheres, o órgão percebeu também que, os cabelos cortados durante as ações poderiam impactar de forma muito positiva na vida de outras mulheres e, assim, surgiu o projeto “Fios de Esperança”. A partir dessa percepção, cada mecha de cabelo cortada foi sendo guardada com bastante cuidado para que em um momento futuro, fosse doada para a Organização Não Governamental (ONG) –  Amigos Voluntários do Pará, que atende mulheres vítimas de escalpelamento.

 

Para a titular da Semu, Paula Gomes, esse projeto vem para ser um elo entre a secretaria e as mulheres vítimas de escalpelamento. “O projeto “Fios de Esperança” surge com a missão de acolher mulheres vítimas de escalpelamento e, também, mulheres que são diagnosticadas com câncer e perdem os cabelos devido ao tratamento. E nós, enquanto secretaria, estamos atentas para atender as demandas das mulheres paraenses que são diversas em cultura e vivências, fazendo com que nosso trabalho seja cada vez mais transversal.”

 

 

 

A doação simbólica aconteceu no prédio sede da secretaria, onde a presidente da ONG, Olinda Guedes, recebeu as mais de 80 mechas de cabelo coletadas pela secretaria durante as ações.”Hoje é um dia muito especial. Quem esteve presente nas ações realizadas no Marajó pôde entender um pouco da realidade de uma mulher escalpelada. Tenho certeza que foi a partir dessa vivência que a equipe da secretaria passou a ter uma outra visão. E hoje nós estamos aqui, colhendo esses frutos maravilhosos”, disse emocionada a representante.  A iniciativa da secretaria em parceria com a ONG deve atender também as mulheres oncológicas que, devido ao tratamento realizado contra o câncer, acabam também perdendo os seus cabelos.

 

“Para algumas pessoas isso é só uma mecha de cabelo, mas não é. Elas representam muito mais. É o resgate da autoestima da vítima, é a oportunidade de voltar a viver, não como antes, até porque acho que é impossível. Mas sim, de trilhar um novo caminho. É muito gratificante ver este trabalho sendo realizado pela secretaria com tanto carinho. Estou muito emocionada e feliz com essa parceria”, completou ainda Olinda Guedes.

“Nosso trabalho começou atendendo as mulheres mastectomizadas e, agora, se estendeu para as mulheres vítimas de escalpelamento. Essas mulheres precisam melhorar a autoestima. Esse trabalho não é feito só com a entrega de perucas, mas também com a escuta e o acolhimento, até porque essas mulheres vivem em anonimato”, disse Kelly Castelo Branco, pedagoga, que atua na Coordenadoria de Enfrentamento à Violência e Promoção dos Direitos das Mulheres da Semu.

“Vamos continuar com nosso papel educador por meio da conscientização da doação de cabelo durante as ações, além de acolher as mulheres, nós também vamos oferecer as opções de qualificação que já realizamos na secretaria. E, a partir disso, fortalecer cada vez mais essas mulheres”, disse Antônia Aleixo, diretora de políticas públicas e autonomia econômica da Semu.

 

Cursos

A Secretaria de Estado das Mulheres (Semu), já realiza ações voltadas para a qualificação por meio do projeto ‘Qualifica Mulher’, ampliando assim, a possibilidade de recolocação no mercado de trabalho com os cursos de inclusão digital, além de cursos voltados para o empreendedorismo feminino.

O que é escalpelamento? 

Os casos mais comuns acontecem em embarcações de pequeno porte, já que são muito utilizadas como meio de transporte pela população, sobretudo, pelos ribeirinhos.
O acidente ocorre quando os cabelos de mulheres e meninas acabam se enrolando no eixo do motor da embarcação sem proteção, ocasionando a perda dos cabelos, sobrancelhas, orelhas, afetando quase todo o rosto e pescoço da vítima, causando deformações podendo levar até à morte.

Apoio 

A Santa Casa de Misericórdia do Pará é referência no atendimento de vítimas de escalpelamento. O espaço, além do atendimento, também garante o acolhimento das vítimas por meio da casa “Casa de Apoio Espaço Acolher”.
Cuidados
Nunca sente com os cabelos soltos perto do motor de qualquer embarcação ou coloque as crianças por perto. Os cabelos devem estar sempre presos e, se possível, utilize touca ou boné, para maior proteção.

 

Fonte: REDEPARÁ
Foto: Mila Amaral