O segundo turno das eleições francesas vai ganhando contornos finais à medida que as forças de centro e de esquerda colocam em prática a estratégia de isolar os candidatos da extrema-direita e concentrar o eleitorado.
Ao fim do prazo para retirada e confirmação de candidaturas, na terça-feira, 221 candidatos retiraram seus nomes das disputas locais, de acordo com um levantamento do jornal francês Le Monde.
O Ministério do Interior francês anunciou, ao fim do 1º turno, que 506 dos 577 círculos eleitorais teriam 2º turno, com 306 disputas triangulares — envolvendo três candidatos — e cinco quadrangulares. Pelo sistema político francês, todos os candidatos com mais de 12,5% se qualificam para o 2º turno, desde que ninguém alcance mais de 50% dos votos. Com as desistências, o quadro mudou.
De acordo com o jornal Le Monde, após as desistências contabilizadas até a noite de terça, o número de disputas triangulares caiu para apenas 94, enquanto 405 das 506 disputas serão apenas entre dois candidatos — chamadas de “duelos” na França.
Apenas uma disputa quadrangular foi confirmada. Ainda de acordo com os dados da publicação francesa, que são parciais e levantados com base nos anúncios de desistência feitos pelos candidatos, 152 disputas serão entre o Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen e Jordan Bardella, contra a Nova Frente Popular, de esquerda, enquanto 133 vão por frente a frente integrantes da coalizão liderada por Emmanuel Macron e membros da extrema direita.
As desistências de candidatos entre o 1º e 2º turno já eram previstas antes do dia da votação, e foram novamente recomendadas pelos líderes das coalizões governista e de esquerda após o resultado de domingo confirmar a liderança da extrema direita.
A Nova Frente Popular e o Renascimento, de Macron, instaram seus candidatos que se qualificaram ao 2º turno como terceiros mais votados a abrirem mão da disputa, quando elas envolvessem candidatos do RN. Alguns representantes da coalizão macronista disseram que manteriam candidaturas quando a disputa triangular envolvesse nomes do RN e do França Insubmissa, considerado pelo governo de extrema esquerda.
A estratégia, conhecida como “cordão sanitário”, já foi utilizada em outras eleições francesas e tem por objetivo concentrar os votos do campo considerado democrático em uma única candidatura em cada região em disputa.
A estratégia, porém, dá sinais de esgotamento diante das divergências entre os diferentes campos políticos e entre o eleitorado.
Os Republicanos, partido da direita histórica francesa que foi beneficiado com a estratégia na eleição do ex-presidente Jacques Chirac, em 2002, rachou antes mesmo do 1º turno, com a ala ligada a Eric Ciotti (que recuperou a presidência do partido após ser expulso por firmar uma aliança com a extrema direita sem consultar a base legislativa) apoiando o RN, e o establishment restante liberando seus eleitores a escolherem a opção que julgarem melhor para a França.
Os institutos de pesquisa franceses apontam que o Reagrupamento Nacional é a única sigla com reais possibilidades de alcançar a maioria de 289 cadeiras necessária para controlar o Parlamento francês. Ao partido, segundo sua líder histórica Marine Le Pen, só a maioria interessa.
Na terça, ela descartou um governo de coabitação sob a presidência de Macron, afirmando que não poderia “aceitar ir para o governo se não pudermos agir”.
Fonte: Agência O Globo
Foto: Gaizka Iroz/AFP
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