Partidos políticos da França se apressavam para construir uma frente unida com o objetivo de bloquear o caminho para o governo do Reunião Nacional (RN), de extrema direita de Marine Le Pen, nesta segunda-feira (1º), depois que este obteve ganhos históricos ao vencer o primeiro turno de uma eleição parlamentar.
O RN e seus aliados venceram a rodada de domingo com 33% dos votos, seguidos por um bloco de esquerda com 28% e bem à frente dos representantes de centro do presidente Emmanuel Macron, que obtiveram apenas 20%, segundo os resultados oficiais do Ministério do Interior.
Embora os mercados financeiros tenham subido com o alívio de a contagem do RN não ter sido maior, ainda assim foi um grande revés para Macron, que convocou a eleição antecipada depois que sua chapa foi derrotada pelo RN na eleição para o Parlamento Europeu no mês passado.
A possibilidade de o RN, anti-imigrante e eurocético, formar um governo dependerá agora do sucesso de os outros partidos conseguirem frustrar Le Pen, reunindo os candidatos rivais mais bem colocados em centenas de distritos eleitorais em toda a França.
Os líderes da Nova Frente Popular, de esquerda, e da aliança centrista de Macron indicaram na noite de domingo (30) que retirariam seus próprios candidatos nos distritos em que outro candidato estivesse em melhor posição para derrotar o RN no segundo turno do próximo domingo.
No entanto, não ficou claro se esse pacto sempre se aplicaria se o candidato de esquerda fosse do partido de extrema esquerda França Insubmissa (LFI), de Jean-Luc Mélenchon, um dos principais membros da Nova Frente Popular.
Orador inflamado, Mélenchon é uma das figuras mais divisivas da política francesa, entusiasmando e horrorizando os eleitores com suas propostas de impostos e gastos e sua retórica de guerra de classes.
O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, aliado do partido de Macron, descartou a possibilidade de convocar os eleitores a escolherem um candidato do LFI. “O LFI é um perigo para a nação”, disse ele à rádio France Inter.
Marine Tondelier, membro sênior do partido ecologista Verdes dentro da aliança de esquerda, afirmou à mesma estação de rádio minutos depois que estava “absolutamente chocada” com a posição de Le Maire, chamando-a de “covarde e privilegiada”.
O analista da Ipsos Mathieu Gallard calculou que o primeiro turno deixou potencial para disputas tripartites em 306 das 577 cadeiras a serem disputadas na Assembleia Nacional da França, ressaltando a escala da incerteza que ainda resta.
Embora a chamada “frente republicana” contra a extrema direita tenha funcionado de modo geral no passado, os analistas questionaram se os eleitores franceses ainda estariam prontos para votar no segundo turno conforme orientação dos líderes políticos.
Há muito tempo um pária para muitos na França, o RN está agora mais próximo do poder do que nunca. Le Pen procurou suavizar a imagem de um partido conhecido pelo racismo e antissemitismo, uma tática que funcionou em meio à raiva dos eleitores contra Macron, o alto custo de vida e as crescentes preocupações com a imigração.
Um governo liderado pelo RN levantaria grandes questões sobre o rumo da União Europeia, dada a resistência de longa data do partido a uma maior integração com a UE.
Os grupos de direitos humanos levantaram preocupações sobre como suas políticas de “França em primeiro lugar” se aplicariam na prática às minorias étnicas, enquanto os economistas questionam se seus planos de gastos pesados são totalmente financiados.
Fonte: UOL Internacional
Foto: Jeff Pachoud/AFP
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