Caracterizadas por transformações nos padrões de temperatura e clima da Terra a longo prazo, as mudanças climáticas podem impactar diretamente a vida no planeta, causando transformações tanto nos ecossistemas terrestres, quanto marinhos. E o que a ciência já vem demonstrando há algum tempo é que essas mudanças já estão em curso e, mais do que isso, que as atividades humanas têm sido o principal impulsionador delas.
Doutora em Ecologia Aplicada e professora da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), a bióloga Vania Neu lembra que as alterações climáticas trazem inúmeras consequências ao planeta e, quando se trata dessas mudanças, é preciso considerar que elas afetam não somente as plantas e animais silvestres, mas também os seres humanos.
“Quando a gente fala dos ecossistemas terrestres, a gente tem que pensar em tudo que está no ambiente terrestre, inclusive as pessoas. A gente vai percebendo, em termos climáticos, alterações dos ciclos de chuva e de seca, então, provavelmente a gente vai ver daqui para frente fenômenos cada vez mais extremos, de chuvas muito fortes e de estiagens muito fortes. São eventos extremos com maior frequência”, considera.
“Ao longo da história, eventos extremos sempre aconteceram, a questão é que a frequência vai ser muito maior. Algo que levava de 20 a 30 anos para acontecer, agora pode acontecer a cada cinco anos, dois anos, em uma frequência muito maior”.
Quando se considera um bioma como a Amazônia, por exemplo, os impactos causados podem ser ainda mais significativos. No caso de uma seca extrema na região amazônica, as consequências vão muito além das ambientais. “Na Amazônia, os rios não são apenas fonte de água para os animais aquáticos, eles são também as ruas, são a forma das pessoas se locomoverem, então, isso traz impactos sociais. Por isso a gente fala de impactos socioambientais”, explica a professora.
“Os rios são fontes de água, são fontes de alimentos, são fontes de biodiversidade, são caminhos para deslocamento para as escolas, para os cuidados médicos, para as cidades, para outros fins. Então, à medida que essas mudanças climáticas vão avançando, tudo isso vai ser afetado. Muitas vezes as pessoas pensam que as árvores podem não resistir, morrer, mas quando a gente fala de ambiente terrestre é preciso considerar tudo isso”.
E as consequências já se fazem presentes no Brasil, hoje. Vania Neu lembra que, em 2023, já se vivenciou uma seca extrema na Amazônia, quando centenas de pessoas ficaram isoladas, sem água potável e sem comida. Ela aponta, ainda, que eventos atípicos como esse estão mais frequentes.
“Agora, a gente está passando por uma chuva intensa na região do Sul do Brasil, já está anunciada uma seca extrema que vai vir em seguida, já temos seca extrema anunciada para o Pantanal e já temos uma seca muito forte anunciada para a Amazônia, então, isso não é normal. Isso é resultado das mudanças que o homem está fazendo no nosso planeta”.
PERIGO
Em outra frente, nos ecossistemas marinhos, as mudanças climáticas também representam um perigo para a biodiversidade, sobretudo no que se refere aos recifes de corais. Vania Neu destaca que uma das consequências mais associadas ao aquecimento global, quando se trata dos ecossistemas marinhos, é o branqueamento dos recifes de corais, causado pela morte de microalgas que vivem em simbiose com os corais. Chamadas de zooxantelas, essas algas são essenciais para a sobrevivência dos corais e uma das causas da perda de zooxantelas é o aumento da temperatura da água.
“O que acontece é que quando ocorre o branqueamento dos corais é a morte dessa microalga que é o alimento do recife de coral. E o recife de coral é um dos lugares mais diversos que a gente tem no oceano. Lá é um local de reprodução do ambiente marinho, então, no momento que esse recife de coral morre, é uma perda muito grande porque essas algas que se instalam nos corais sequestram uma grande quantidade de carbono, elas fixam muito carbono”.
Entre outras consequências geradas aos oceanos, a pesquisadora cita a acidificação dos oceanos; o aumento do nível do mar em decorrência do degelo das Calotas Polares, o que também impacta no ambiente terrestre; a salinização dos rios; falta de água potável, entre outras.
CONFIRA ALGUNS EFEITOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS DESTACADAS PELA ONU
- TEMPERATURAS MAIS ALTAS – À medida que a concentração dos gases de efeito estufa aumenta, o mesmo acontece com a temperatura da superfície global. Temperaturas mais elevadas aumentam o número de doenças relacionadas ao calor e dificultam o trabalho ao ar livre. Incêndios começam com maior facilidade e se espalham mais rapidamente quando as condições estão mais quentes.
- TEMPESTADES MAIS SEVERAS – Conforme as temperaturas aumentam, mais umidade evapora, agravando chuvas e inundações extremas e causando tempestades mais destrutivas. A frequência e a dimensão das tempestades tropicais também são afetadas pelo aquecimento do oceano. Ciclones, furacões e tufões se alimentam da água quente na superfície do oceano. Com frequência, essas tempestades destroem casas e comunidades, causando mortes e enormes perdas econômicas.
- AUMENTO DA SECA – As mudanças climáticas afetam a disponibilidade de água, tornando-a mais escassa em mais regiões. O aquecimento global agrava os períodos de seca em regiões onde a falta de água já é comum e leva a um risco maior de secas agrícolas, afetando plantações, e secas ecológicas, aumentando a vulnerabilidade dos ecossistemas.
- UM OCEANO CADA VEZ MAIS QUENTE E MAIOR – O oceano absorve a maior parte do calor gerado pelo aquecimento global. À medida que essa temperatura sobe, o volume dele aumenta, já que a água se expande quando aquecida. O derretimento de placas de gelo também provoca o aumento do nível do mar, ameaçando comunidades litorâneas e insulares. Além disso, o oceano absorve dióxido de carbono, evitando que ele se concentre na atmosfera. No entanto, mais dióxido de carbono deixa a água mais ácida, ameaçando a vida marinha e recifes de corais.
- PERDA DE ESPÉCIES – As mudanças climáticas representam riscos para a sobrevivência de espécies na terra e no oceano. Esses riscos aumentam com a elevação das temperaturas. Incêndios florestais, clima extremo, além de doenças e pragas estão entre as várias ameaças relacionadas às mudanças climáticas. Algumas espécies conseguirão se deslocar e sobreviver, mas outras não.
Fonte: DOL
Foto: Rafa Neddermeyer
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