Mal posicionada em rankings de liberdade de imprensa e de expressão, a China limita o quanto sua população sabe sobre conflitos internos importantes da história do país, como a Revolução Cultural e o Massacre da Praça da Paz Celestial.

Números de mortes diferem drasticamente. O Partido Comunista Chinês afirma que morreram 300, em sua maioria policiais, e que as mortes de manifestantes foram incidentais. Em contrapartida, organizações de direitos humanos e embaixadores afirmam que morreram até 10.000 pessoas, sendo a maioria estudantes e outros manifestantes.

Arquivos foram queimados, e base documental existente é imprecisa. Segundo a historiadora Andrea Longobardi, que estuda sobre a China, a maioria das informações sobre os eventos na Praça da Paz Celestial vem de relatos, o que torna a discussão abstrata. “Assim como em todos os eventos radicais políticos, há vários fatores para o conflito de versões. Sempre há grande disputa de opiniões”, analisa a pesquisadora.

“Massacre da Praça da Paz Celestial mandou mensagem forte e efetiva”, diz historiadora. Para Longobardi, a repressão aos manifestantes serviu como mensagem a dissidentes do Partido, suprimindo sentimentos de revolta dentro do país.

Para filósofo chinês, a repressão foi apoiada por parte da sociedade. Para Wang Hui, a resposta do governo chinês aos protestos da Praça da Paz Celestial acelerou a economia do país, colaborando com a estabilização da China e sua transformação em um dos países mais ricos do mundo.

Cultura chinesa absorveu a ideia de que a harmonia social é mais importante do que observar a história recente de maneira crítica, destaca Longobardi. Isso, aliado à falta de conhecimento dos chineses sobre o tema, faz com que mortes causadas pelo governo chinês não sejam discutidas, explica a historiadora.

“Política do Partido é não falar sobre”. A historiadora explica que, para conflitos internos na China, o governo chinês tem como preferência a política do silêncio. Assim, sobre as fatalidades que ocorreram na Praça da Paz Celestial em 1989 ou mesmo durante a Revolução Cultural, iniciada em 1966, o Partido evita comentários.

 

Liberdade de imprensa é suprimida na China, dizem ONGs

Organização Repórteres Sem Fronteiras classifica a China como “a maior prisão de jornalistas do mundo”. No último ranking da organização, deste ano, a China ficou na 8ª posição na lista dos 180 dos piores lugares para jornalistas trabalharem e viverem.

Mídia é controlada pelo Estado. Apesar de existirem veículos independentes, seus organizadores trabalham das sombras, mudando suas sedes com frequência e com muito cuidado. Para Longobardi, o governo busca “controlar a informação, dando sua própria versão sobre os acontecimentos”. Segundo o Repórteres Sem Fronteiras, jornalistas licenciados recebem “um aviso detalhado para todos os meios de comunicação todos os dias, incluindo diretrizes editoriais e tópicos censurados”.

Comitê para Proteger Jornalistas denunciou perseguições. A organização produziu, em 2019, um relatório em que chamava o governo chinês de “campeão da censura e do controle da informação”. O documento descreve que o governo de Xi Jingping bloqueia a maioria de sites jornalísticos ocidentais, como o New York Times, BBC e Bloomberg. Além disso, pede que acadêmicos e escritores deletem posts e removam reportagens e curtidas em certos conteúdos.

Partido Comunista Chinês é responsável por propaganda interna. Material é distribuído pela Rede Global de Televisão da China e pela Rádio Internacional da China, ambas do governo chinês. O sistema de televisão e rádio é regulamentado pelo Estado.

Constituição chinesa prevê liberdade de imprensa. O artigo 35 da Carta diz que “os cidadãos da República Popular da China gozam da liberdade de palavra, de imprensa, de reunião, de associação, de desfile e de manifestação de rua”. Entretanto, o artigo 51 diz que o exercício das liberdades dos cidadãos “não pode infringir os interesses do Estado, da sociedade e da coletividade, nem as liberdades e direitos legítimos de outros cidadãos”, o que torna a legislação mais maleável.

“Ursinho Pooh” é banido em redes sociais na China. A circulação de imagens do personagem infantil Ursinho Pooh (ou Puff) é bloqueada pelo governo chinês desde que ativistas usaram imagens de Pooh para caçoar de Xi Jingping. Entretanto, a venda de brinquedos e livros do personagem ocorre normalmente, e há duas atrações de Pooh na Disneylândia de Shanghai.

 

Fonte: UOL Internacional
Foto: Jeff Widener