Os resultados já conhecidos das eleições ao Parlamento Europeu consolidaram o esperado avanço da ultradireita na Europa, ainda que aquém do previsto, e a manutenção do centro (formado por conservadores, social-democratas e liberais) como a maior força.

A nova composição revela um parlamento mais fragmentado e expõe a divisão política interna em alguns dos 27 países com direito a voto, como Alemanha e Itália. Na França, o avanço da ultradireita levou o presidente Emmanuel Macron a dissolver a Assembleia Geral e convocar nova eleição.

A contagem de votos é feita por cada país, que possui regras próprias para o pleito. Os cidadãos votam em partidos nacionais, que formam alianças com siglas transnacionais para formar as bancadas do legislativo de 720 assentos. Por isso, a eleição para o Parlamento Europeu é tomada como um termômetro para a disputa nacional.

A sigla de centro-direita dos conservadores cristãos Partido Popular Europeu (PPE) conquistou 185 assentos, seguida pela centro-esquerda Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), com 137, e a coalizão liberal Renovar a Europa, com 79, segundo a contagem oficial preliminar do Parlamento Europeu divulgada nesta segunda-feira (10/06).

Grupos compostos por partidos da ultradireita, como os Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e o Identidade e Democracia (ID), obtiveram 73 e 58 assentos, respectivamente. O grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia assegurou apenas 52 vagas no Parlamento e a Esquerda, 36. Candidatos independentes, não vinculados a nenhuma bancada, devem ficar com 100 assentos, o que inclui eleitos de partidos de ultradireita que não fazem parte de alianças, como a alemã AfD e o húngaro Fidesz.

A seguir os resultados em alguns países.

 

Alemanha

Na Alemanha, os partidos conservadores União Democrata Cristã (CDU), da atual presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e União Social Cristã (CSU), saíram vitoriosos, engrossando com 29 cadeiras a bancada do grupo transnacional Partido Popular Europeu (PPE). Eles foram seguidos pela legenda de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AFD). O partido foi expulso do grupo Identidade e Democracia (ID) semanas antes das eleições após uma série de escândalos e, por isso, vai ocupar 15 cadeiras no parlamento de forma independente.

A coalizão do Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia elegeu 16 deputados em aliança com 3 partidos nacionais. Já o Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D), composto na Alemanha pelo Partido Social Democrata (SPD), do chanceler federal Olaf Scholz, conquistou apenas 14 cadeiras.

A coalizão Renovar a Europa ficou com 8 cadeiras (sendo 5 do partido liberal FDP e 3 do Freie Wähler), e a Esquerda, com 4. Outros partidos independentes receberam 9 votos. O ID e o ECR não elegeram deputados na Alemanha.

 

França

Na França, a ultradireita saiu vitoriosa com a eleição de 30 nomes do grupo Identidade e Democracia. É a maior bancada conquistada pela coalizão de ultradireita em todos os países cujos resultados preliminares foram divulgados. Já o S&D conquistou os mesmos 13 lugares na França que o Renovar a Europa, seguidos pela Esquerda, com 9 eleitos, e pelo PPE, com 6. O Grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR) e os Verdes elegeram 5 eurodeputados cada.

A vitória expressiva do ID, impulsionada pelos votos no partido de ultradireita Reagrupamento Nacional (RN), de Marine Le Pen, fez o presidente Emmanuel Macron anunciar a dissolução da Assembleia Nacional e convocar uma eleição legislativa antecipada. É a primeira vez que isso acontece no país desde 1997. Macron defendeu a medida como forma de “devolver a escolha” dos futuros parlamentares franceses à população. “Partidos de ultradireita (…) estão progredindo em todo o continente. É uma situação à qual não posso me resignar”, disse.

O RN ganhou as eleições europeias de domingo com 31,37% dos votos, seguindo-se a coligação do partido de Macron, com 14,60%, e a coligação dos socialistas, com 13,83%.

 

Espanha

Com 66 vagas no Parlamento Europeu, a eleição na Espanha resultou num maior equilíbrio entre os grupos de centro. O grupo PPE obteve um número estimado de 22 vagas, seguida pelo S&D, com 20. O ECR, que inclui o partido espanhol de extrema direita Vox, fez 6 cadeiras. Os verdes elegeram 4 deputados, a Esquerda, 3, e o Renovar a Europa, apenas 1. Independentes somaram 5 lugares.

 

Itália

Já a Itália viu o partido ultradireitista Irmãos da Itália, da primeira-ministra Giorgia Meloni, conquistar a maior bancada para o ECR, com 24 assentos – é o maior número de eleitos para a coalizão em um único país.

Segundo os resultados preliminares, os Irmãos da Itália venceram o pleito com 28,8% dos votos, contra 24,1% do Partido Democrático (PD, centro-esquerda), que se confirma como a grande força da oposição. Em 2022, os Irmãos de Itália venceram as eleições nacionais com 26% dos votos, permitindo a Meloni tornar-se a primeira mulher a governar a Itália, à frente de um governo de coalizão de direita e extrema direita que é formado também pela Liga e a Força Itália.

A Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D) conquistou 20 vagas e o PPE, 9. A ultradireita também avançou com outras 8 cadeiras obtidas pelo ID. Eleitos não-vinculados a grupos do Parlamento Europeu somam 12 assentos, e os verdes chegaram a 3 deputados.

 

Polônia

A Polônia também consolidou o avanço da direita. ECR e PPE empataram com 20 deputados cada. Renovar a Europa e S&D também empataram com 3 assentos conquistados por partido. Outras siglas somaram 8 vagas para o país no Parlamento Europeu.

 

Portugal

Em Portugal, as urnas deram larga vitória para os grupos de centro. Foram 8 vagas obtidas pelo S&D e 7 para o PPE. A iniciativa liberal Renova a Europa, a Esquerda e o grupo de extrema direita Chega elegeram 2 deputados cada. Portugal tem 21 cadeiras no Parlamento Europeu.

O Partido Socialista (PS) venceu as eleições com 32,09% dos votos, à frente da coalizão de centro-direita Aliança Democrática (AD), liderada pelo primeiro-ministro Luís Montenegro, que obteve 31,12% dos votos. Em terceiro lugar ficou o partido de ultradireita Chega, com 9,79%, seguido pela Iniciativa Liberal (IL), com 9,07%. Essa é a primeira vez que ambos conseguem representação no Parlamento Europeu. Logo atrás deles ficaram o Bloco de Esquerda (4,25%) e o Partido Comunista (4,12%), ambos com um eurodeputado.

 

Hungria

Os resultados preliminares na Hungria confirmam a vitória do partido nacionalista do primeiro-ministro Viktor Orbán, com 43,8%. A legenda Fidesz-KDNP levou, sozinha, 10 deputados ao Parlamento Europeu, onde vão atuar de forma independente. O grupo do Partido Popular Europeu (PPE) ficou com 8 vagas e o S&D, com 2. Outros partidos elegeram apenas um deputado para o Parlamento.

De acordo com os resultados parciais, o Fidesz perdeu uma quantidade significativa de votos em comparação com as eleições europeias de 2019, quando obteve 52,5%.

 

Bélgica

Os resultados na Bélgica até o momento mostram uma disputa equilibrada entre os grupos políticos. A centro-esquerda do S&D e a centro-direita do PPE receberam 4 assentos cada. Renovar a Europa também elegeu 4 deputados, seguida pelo ECR, com 3, Verdes, com 2 e a Esquerda, também com 2.

Logo após os primeiros resultados, o primeiro-ministro Alexander De Croo anunciou a sua renúncia devido ao desastre eleitoral do seu partido, o liberal flamengo Open Vld, nas eleições. Ele felicitou os vencedores, o partido nacionalista flamengo N-VA (3 assentos) e o partido de extrema direita Vlaams Belang (também 3 assentos), bem como o partido socialista flamengo Vooruit, que obteve 2 assentos. Os maus resultados do partido liberal flamengo contrastam com o bom desempenho alcançado pelos liberais francófonos do MR (3 assentos) em Bruxelas e na Valônia.

 

Grécia

Os conservadores do PPE venceram o pleito na Grécia, conquistando 7 vagas no Parlamento. É o único país em que a Esquerda ocupa o segundo lugar isolado até agora, com 4 eleitos pelo Syriza, o partido que governou sob o comando do então primeiro-ministro Alexis Tsipras durante a grave crise financeira de 2010 a 2018. O S&D ficou com 3 assentos e o ECR, com 2. Independentes vão ocupar 5 vagas.

 

Outros

Áustria e Holanda também são países que saem divididos das eleições europeias.

Os austríacos cederam 6 votos para o Grupo Identidade e Democracia, com votação obtida pela legenda nacionalista Partido Austríaco da Liberdade (FPÖ). Os democratas-cristãos do PPE obtiveram 5 cadeiras, bem como o S&D. Renovar a Europa e os Verdes ficaram com 2 assentos cada.

Já a Holanda registrou um dos melhores desempenhos dos liberais do Renovar a Europa, com 7 deputados eleitos. O grupo Identidade e Democracia elegeu 6, seguido por PPE, com 5 e S&D, também com 5 eleitos. Verdes conquistaram 4 assentos, enquanto o ECR e a Esquerda levaram um deputado cada ao Parlamento. Outros partidos elegeram 2 deputados.

 

Fonte: Opera Mundi
Foto: Jose Huwaidi/Wikimedia Commons