Faltando dois meses para a 30ª edição dos Jogos Olímpicos de Paris, três atletas de Santa Catarina já têm vagas garantidas para disputar medalhas na capital francesa: Geovana Meyer, no tiro esportivo, Darlan Romani, no atletismo, com arremesso de peso, e Tainá Hinckel, no surfe. Mas com competições e seletivas ainda em andamento, este número tem tudo para aumentar até o início do evento. A abertura oficial dos jogos abertura está agendada para o dia 26 de julho, à beira do icônico Rio Sena.
Um exemplo de quem ainda espera vaga é Rosamaria, oposta da Seleção feminina de vôlei. A atleta natural de Nova Trento foi medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio, no Japão, em 2020, e pelo desempenho recente na Liga das Nações de Vôlei tem tudo para voltar a ser convocada pelo técnico José Roberto Guimarães. Já o florianopolitano Pedro Barros, que também conquistou prata no skate park em 2020, ainda briga por uma vaga para competir em Paris. As duas medalhas fizeram das Olimpíadas de Tóquio a melhor da história para Santa Catarina, que até então havia conquistado dois bronzes nos Jogos de Atlanta, em 1996.
A surfista Tainá Hinckel, da Guarda do Embaú, em Palhoça, conquistou a vaga em março de 2024 depois de avançar ao round 5 do ISA Games em Porto Rico. Ela fará sua estreia em Olimpíadas. Depois dela, em abril, foi a vez de Geovana Meyer, de Joinville, conquistar a vaga. Ela é atleta do tiro esportivo na categoria carabina com três posições e também vai para sua primeira Olimpíada. Depois de ficar em segundo lugar no pré-olímpico, a atleta conquistou a vaga e deve representar o país na França.
O outro catarinense com vaga certa nas Olimpíadas de Paris não é um estreante. Darlan Romani, de Concórdia, é o único de Santa Catarina do atletismo garantido nos Jogos Olímpicos. Darlan alcançou o índice ao arremessar 21 metros e 58 centímetros no Troféu Brasil, no dia 7 de julho de 2023.
Outros catarinenses do atletismo ainda dependem de resultados para conseguirem uma vaga. É o caso de Rodrigo Nascimento, de Itajaí, que compete pela principal prova da modalidade, os 100
metros rasos.
No atletismo, é possível se classificar de duas formas para Paris 2024. Metade das vagas será para quem atingir os índices olímpicos e a outra será baseada no ranking da World Athletics. O blumenauense Matheus Correa, da marcha atlética 20 quilômetros, a joinvilense Eliane Martins, do salto em distância, e Simone Ferraz, que nasceu em Ponte Serrada, e disputa os 3 mil metros com obstáculos, dependem do ranking para participarem dos Jogos Olímpicos.
No vôlei feminino, além de Rosamaria, a joinvilense Helena Wenk também foi convocada para a Liga das Nações de Vôlei, mas ainda não joga com frequência. A jogadora do Sesc-Flamengo, de 19 anos, é uma promessa da modalidade e está no radar da comissão técnica.
Conheça os catarinenses com vaga garantida nos Jogos Olímpicos de Paris 2024
Quatro skatistas em alta para obter vaga
O skate também pode fazer o número de catarinenses nas Olimpíadas de Paris aumentar. Os quatro skatistas de Florianópolis — Pedro Barros, Isadora Pacheco, Yndiara Asp e Pedro Carvalho — participaram do Olympic Qualifier Series (OQS) em Xangai, na China, que foi o penúltimo evento classificatório para os Jogos Olímpicos. A manezinha Isa Pacheco terminou na quarta posição, com 86,77 pontos. Pedro Barros conseguiu a melhor classificação no masculino com um quinto lugar, fazendo 88,96. Em junho, o OQS, em Budapeste, será o último evento classificatório para Paris 2024.
E um catarinense de coração também está pronto para ir a Paris. Bruno Fontes, da vela, nasceu em Curitiba (PR), mas vive em Florianópolis. Conquistou a vaga para o Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 na classe ILCA 7, conhecida como classe Laser, depois da participação do Campeonato Mundial da categoria, em Adelaide, na Austrália, onde ficou em 74º no geral.
Metade dos mais de 10 mil atletas é mulher
Aproximadamente 10,5 mil atletas — sendo 222 brasileiros já confirmados — estarão em busca de medalhas. Uma novidade fica por conta da participação de mulheres, que representarão 50% entre os competidores, o que se torna a maior representatividade na história dos Jogos.
A primeira edição das Olimpíadas foi realizada em 1896, em Atenas, na Grécia, mas a primeira participação feminina aconteceu em 1900. Em forma de comparação, a edição de 1924, também em Paris, contou com apenas 4,3% de atletas mulheres.
O sonho olímpico de Tainá Hinckel
Criada com o pé na areia e na beira do mar da Guarda do Embaú, na Grande Florianópolis, o destino da Tainá Hinckel não poderia ser outro além do surfe. Aos 21 anos, a catarinense vai realizar o sonho olímpico e já está em Teahupo’o, no Taiti, palco da prova nos Jogos Olímpicos Paris 2024.
Filha caçula da Janete Hinckel e do ex-surfista profissional Carlos Kxot, Tainá vive com a família na praia da Guarda do Embaú. Influenciada pelo pai, que assume também as funções de treinador e shaper, é rodeada pelo mar e o surfe desde criança.
— Eu comecei a surfar muito nova por influência do meu pai e da minha família. Lá na minha casa, todos respiram surfe — conta Tainá.
Se tornar uma surfista profissional foi natural para Tainá. Influenciada também pelo irmão mais velho, Waynan Hinckel, que foi atleta de surfe, participou de competições desde muito nova. Treinada pelo pai, o interesse pelo esporte surgiu quando era uma criança curiosa de 11 anos.
— Um dia estava acontecendo um campeonato na Guarda de Embaú, e ela estava assistindo. Do nada, ela pediu para surfar. A evolução foi super rápida, e ela foi picada pelo bichinho do surfe. Desde então, não parou mais — relembra o pai e treinador, Carlos Kxot.
Não à toa, se destacou cedo e estreou na etapa brasileira do World Surf League (WSL), em 2017, no dia do seu aniversário de 14 anos. Foi em 8 de maio que Tainá não só comemorou mais um ano de vida, mas também sua entrada na elite do surfe brasileiro, ao vencer a triagem do Rio Pro, em Saquarema (RJ).
Na época, Tainá foi apontada como uma das candidatas para os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, na primeira vez em que o esporte foi incluído nas Olimpíadas. No primeiro ciclo olímpico, a catarinense ficou de fora e as vagas foram preenchidas pelas veteranas Tatiana Weston-Webb e Silvana Lima.
— Desde que o surfe foi considerado um esporte olímpico, realmente, se tornou um sonho para mim, mas parecia distante de primeira mão — diz a surfista.
Não se classificar para as Olimpíadas de Tóquio acabou sendo o começo de fato do sonho olímpico da Tainá. Três anos depois de muitos treinos, títulos e com mais experiência, a catarinense vai à Teahupo’o para representar o Brasil nas Olimpíadas de Paris.
— É a segunda vez que o surfe está participando das Olimpíadas, então é algo muito recente para todos nós, surfistas. É incrível poder estar representando o Brasil e também a Guarda do Embaú em algo tão grande e especial, que já pareceu tão distante para mim — relata.
A vaga de Tainá foi conquistada no ISA Games, no fim de fevereiro, em Porto Rico. A surfista avançou à antepenúltima bateria do torneio e, assim, se classificou para as Olimpíadas de Paris.
Em Teahupo’o, Tainá Hinckel competirá ao lado das brasileiras Luana Silva e Tatiana Weston-Webb. Elas terão a companhia dos surfistas Gabriel Medina, Filipe Toledo e João Chianca Chumbinho, que também representarão o Brasil nas Olimpíadas de Paris.
— A preparação para Paris tem sido intensa, principalmente, na água, porque o surfe vai ser em Teahupo’o. Eu estou exatamente aqui treinando para as Olimpíadas, conhecendo o lugar e treinando na onda do campeonato — conta Tainá.
A vaga olímpica é mais uma das conquistas da surfista catarinense na temporada 2023/2024 — a melhor de sua carreira, até o momento. Tainá foi campeã nacional de surfe no Dream Tour 2023, no fim do ano passado, além de ter vencido o título sul-americano do Qualifying Series, a primeira divisão de acesso da elite do surfe mundial. Em abril, ela começou sua participação no Challenger Series, em busca de um espaço na elite em 2025.
O “Senhor Incrível” catarinense, Darlan Romani
O nome dele é Darlan Romani, mas também pode ser chamado de “Senhor Incrível”. O catarinense de Concórdia tem 33 anos e vai para sua terceira olimpíada em busca da primeira medalha no atletismo, com o arremesso de peso.
Foi na cidade do Oeste de Santa Catarina que ele começou na modalidade. Quando foi convidado para treinar em Uberlândia, no interior de Minas Gerais, o seu pai, Moacir Romani, não queria deixar que ele fosse. Para convencê-lo, Darlan argumentou que não queria ter que contar em roda de amigos que seu pai o proibiu de tentar a carreira no atletismo. Exatamente, como o pai fazia falando que o avô de Darlan não permitiu que ele saísse de Concórdia para jogar bola.
Nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, o catarinense chegou na final do arremesso de peso, após 80 anos que o Brasil não tinha chance de disputar uma medalha olímpica na modalidade. No entanto, Darlan acabou ficando com o 5º lugar e longe do pódio.
Durante a pandemia, o atleta treinou em um terreno baldio em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, cidade onde mora. Na tentativa de manter os treinamentos em dia, acabou desenvolvendo uma hérnia de disco, o que fez com que ele ficasse parado durante um mês e meio, em 2021. Ele também teve Covid e chegou a ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Mesmo assim, Darlan conseguiu um quarto lugar em Tóquio. Foi durante os jogos do Japão que ele acabou viralizando nas redes sociais por sua semelhança com o Senhor Incrível, do filme “Os Incríveis”, da Disney/Pixar.
A vaga do catarinense para as Olimpíadas de Paris foi conquistada com bastante antecedência. No dia 7 de julho de 2023, ele obteve a marca de 21 metros e 58 centímetros durante a prova do arremesso de peso do Troféu Brasil de Atletismo 2023, realizado em Cuiabá, no Mato Grosso. A marca fez com que ele alcançasse o índice olímpico.
No Campeonato Mundial de Atletismo de 2023, Darlan bateu na trave novamente. Nas eliminatórias, se qualificou em 1º lugar, com a marca de 22 metros e 37 centímetros, o suficiente para que Darlan ganhasse a medalha de prata na final. No entanto, na disputa da final, ele terminou em 8º lugar, com a marca de 21 metros e 41 centímetros.
Darlan Romani era o favorito nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, no Chile. No dia 3 de novembro de 2023, ele correspondeu às expectativas, ganhou a medalha de ouro depois de alcançar a marca de 21 metros e 36 centímetros e virou bicampeão da competição.
Em março de 2024, durante as disputas do Campeonato Mundial Indoor de Atletismo, em Glasgow, na Escócia, o catarinense terminou em 7º lugar na prova do arremesso do peso.
A última competição de Darlan foi o Grande Prêmio Brasil, realizado no começo de maio em Niterói, no Rio de Janeiro. Recuperando-se de uma dengue, que o deixou alguns dias parado, ele venceu o GP com a marca de 20 metros e 55 centímetros.
Geovana Meyer
Natural de Joinville, Geovana Meyer começou a atirar com apenas nove anos na categoria Tiro Seta. A paixão foi acompanhando a adolescência e a recompensa da dedicação da atleta de 22 anos veio no primeiro semestre de 2024, quando ela garantiu uma das vagas no tiro esportivo nos Jogos Olímpicos em Paris, na França. Será a primeira vez da catarinense em uma Olimpíada.
Meyer se classificou para as Olimpíadas obtendo a medalha de prata na final da Carabina três posições 50 metros feminino na Copa das Américas, em Buenos Aires, na Argentina, em abril deste ano. A vencedora da prova foi a americana Sagen Maddalena, que já estava classificada para Paris. Dessa forma, a vaga foi automaticamente para Geovana.
— Meus pais me apoiaram muito. Quando nós queremos e as pessoas ao nosso redor também querem e o meu sonho vira o sonho delas também, é gratificante. Agora, dizer que isso vai dar certo é muito bom — contou a joinvilense.
Geovana Meyer conquistou, além da vaga olímpica, a posição como a primeira atleta a levar a cota place (pré-requisito na categoria para garantir a vaga olímpica) na Carabina três Posições Feminino, e é a segunda brasileira que irá participar dos Jogos Olímpicos na disciplina. A primeira foi Rosane Budag nos Jogos Rio 2016, conforme a Confederação Brasileira de Tiro Esportivo.
Geovana ocupa a terceira vaga do Brasil no tiro esportivo em Paris 2024. Philipe Chateaubrian foi o primeiro a carimbar o passaporte na pistola de ar 10 metros, ao vencer o Campeonato das Américas de Tiro Esportivo em 2022. Georgia Furquim conquistou a segunda vaga do país no Campeonato das Américas, pelo skeet feminino, na República Dominicana, em março deste ano.
Jogos Paralímpicos Paris 2024
Os Jogos Paralímpicos Paris 2024 começarão em 28 de agosto e seguem até 8 de setembro. Em 11 dias de competição, 4,4 mil paratletas do mundo inteiro vão em busca de medalhas em 22 esportes paralímpicos. A expectativa do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) é convocar cerca de 250 atletas para as disputas na cidade francesa.
Caso esse número se confirme, ele deve superar a edição de Tóquio, quando o país teve a maior delegação em Jogos Paralímpicos no exterior. Foram 259 atletas, incluindo atletas-guia, calheiros, goleiros e timoneiros.
A delegação brasileira, até o momento, tem 163 vagas garantidas. A convocação final deve acontecer entre junho e julho. Atletismo, badminton, natação, vôlei sentado, goalball, futebol de cegos, ciclismo, hipismo, canoagem, remo, taekwondo e tênis de mesa são algumas das modalidades confirmadas.
Só no tênis de mesa, o Brasil já possui 10 atletas confirmados. Entre elas, duas catarinenses fazem parte desta lista: Danielle Rauen, de São Bento do Sul, e Bruna Alexandre, de Criciúma, farão parte da delegação brasileira que vai em busca de superar o 7º lugar geral conquistado nas Paralimpíadas de 2012 e 2020.
Comentários