O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) falou sobre Auxílio Brasil, instabilidade política e econômica nacional e até seu passado conflituoso com o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice em sua chapa, em conversa com empresários hoje (5) em São Paulo.
Em encontro com o setor na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) nesta manhã, Lula fez duras críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e prometeu retomada da estabilidade nacional, inclusive para o empresariado. Acompanhado de Alckmin e do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), candidato ao governo, Lula discursou e respondeu a perguntas por pouco mais de 1h30.
Promessa de estabilidade
O tom do discurso de Lula foi voltado à retomada da estabilidade econômica e política do país. Em meio a duras críticas a Bolsonaro, Lula argumentou que a atual situação nacional impossibilita desenvolvimento de negócios tanto internamente como no exterior.
“Vocês, empresários, vão voltar a ser respeitados, vocês vão ser tratados com a defesa que têm que ser tratados nas relações internacionais. Nada será feito de surpresa, não haverá política de surpresa”, disse Lula. “Nós não vamos dormir de noite e à meia-noite anunciar pacote. Na minha vida não existe isso, tudo será motivo de discussão. Tudo será público até o sol aparecer. Quando o sol se esconder, não tem mais acordo, só no outro dia.”
Ele afirmou que Bolsonaro cria um “clima de instabilidade” e “convulsão diplomática no mundo” e aproveitou para citar Alckmin, bem-visto pelos empresários, durante seu discurso.
“Isso vai ser para nós um filé mignon, Alckmin. Quando nós dois chegarmos e eles perceberem o sabor de lula com chuchu, esse Brasil vai voltar a crescer, vai voltar a ser representativo”, disse o ex-presidente.
“Vou repetir três palavras que fazem parte do meu dicionário, essas três palavras se chamam: credibilidade, estabilidade e previsibilidade. A segunda coisa é que o Brasil precisa voltar a normalidade. O que é voltar a normalidade? Cada um no seu galho, cada macaco no seu galho. Nem a Suprema Corte pode fazer política, nem o Congresso Nacional pode fazer o papel da Suprema Corte.” (Lula-PT, a empresários)
Crescimento sustentável
A retomada da pauta sustentável, assunto delicado para o governo Bolsonaro, tem sido também uma das principais bandeiras do plano de governo do PT — ainda que o programa completo não tenha sido lançado. Na Fiesp, Lula prometeu que condicionará investimento estrangeiro a incentivos sustentáveis.
“A Europa vai definitivamente voltar a compreender, se quiser fazer investimentos no Brasil: a gente [tem que] ter disposição de enfrentar qualquer grileiro, qualquer boiadeiro, qualquer canavieiro que quiser invadir áreas que não podem ser invadidas. O Brasil precisa reconquistar credibilidade no exterior.” (Lula-PT, sobre a pauta ambiental)
Críticas à Lava Jato
Como costume, o ex-presidente não poupou a Operação Lava Jato, amplamente aprovada pelo empresariado brasileiro nos últimos anos. O ex-presidente voltou a atribuir à operação liderada pelo ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro (União Brasil), pré-candidato ao Senado no Paraná pelo União Brasil, a causa da falência de alguns setores do país.
Uma das principais pautas econômicas do plano de governo do PT tem sido a reindustrialização. Lula comparou a presença de mercado da China e dos Estados Unidos no setor industrial brasileiro e disse que um dos pontos da volta do crescimento econômico do país é retomar este processo.
Uso eleitoreiro do Auxílio Brasil
O ex-presidente também foi para cima do “uso eleitoreiro”, como a campanha tem chamado, do Auxílio Brasil de R$ 600 e outros benefícios, que começam a ser pagos hoje, porque só vão até dezembro.
“É nesse clima que vamos concorrer a uma eleição, vendo um dos adversários, para não citar nomes, fazendo a maior distribuição de dinheiro que uma campanha política já viu desde o fim do império. Não se tem conhecimento, não se tem precedentes na história do Brasil de alguém, que faltando 57 dias para as eleições, resolva fazer uma distribuição de R$ 58 bilhões de um benefício que só dura até dezembro.” (Lula-PT, em crítica a Bolsonaro)
“Me preocupa porque, depois de terminar os benefícios depois de três meses, há de se perguntar se o povo aceitará pacificamente a retirada desses benefícios que está recebendo por causa das eleições”, disse Lula.
Para rebater Bolsonaro, a campanha de Lula deverá focar em duas estratégias: inicialmente, criticar a medida como eleitoreira, como esta fala de Lula e, ao mesmo tempo, reforçar a associação de auxílios e benefícios ao nome de Lula, como sempre foi feito com o Bolsa Família.
Troféu Alckmin
A união com ex-governador paulista, próximo da fundação durante seus 17 anos no Palácio dos Bandeirantes, foi exibida como troféu pela campanha, seja na fala de Lula quanto na do ex-ministro Aloízio Mercadante (PT), coordenador do plano de governo.
“O fato de eu e Alckmin estarmos juntos é uma das grandes novidades políticas desse país. O Alckmin foi meu adversário político em 2006 [eleição presidencial]. Esse jeitão bonzinho dele não foi tão bom na campanha, eu estou com as canelas até agora machucadas mesmo usando tornozeleira. [risos] E eu e ele resolvemos relevar isso ao segundo plano e resolvemos compor uma chapa na perspectiva de consertar esse país.” (Lula-PT, sobre Alckmin)
Antes de Lula, Alckmin foi amplamente aplaudido pelo empresariado, durante seu discurso de dez minutos e. Ao ser apresentado pelo presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, o ex-governador foi definido como alguém “que sempre teve um carinho muito grande pela Fiesp”.
“O caminho é o diálogo. Quem ouve mais, erra menos. Estar sintonizado com o setor produtivo. O foco na questão do emprego e renda, que é a obsessão do presidente Lula. Por isso nós estamos juntos. O Brasil precisa. As caneladas ficaram para trás, os olhos têm que estar no futuro e o hit das paradas é Lula com chuchu. É um sucesso absoluto”, declarou Alckmin.
Debate com empresários
Lula falou a empresários na sede da Fiesp nesta manhã. Esta é a quarta rodada de debates com presidenciáveis promovidos pela fundação. Já participaram Ciro Gomes (PDT), Luís Felipe D’Ávila (Novo) e Simone Tebet (MDB).
Na semana passada, Bolsonaro cancelou a ida em cima da hora e desmarcou um jantar com empresários em São Paulo.
Fonte: UOL
Foto: Tomzé Fonseca/Estadão
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